segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Ethos Mundial - Para a construção de um mundo sustentável



Leonardo Boff propõe, através de Ethos Mundial, uma reflexão profunda e urgente na perspectiva de um pacto planetário para a preservação das espécies e do lar comum: a Terra.

Sendo o ser humano um ser de relações ilimitadas, ele só se realiza à medida que é para os outros, sai de si e se relaciona com os demais, num projeto, numa direção. A experiência-base da vida humana é o sentimento, o afeto e o cuidado. Contrapondo ao modelo: "Penso, logo existo" e, sendo o ser humano, fundamentalmente, um ser de cuidado, o novo paradigma proposto é: "sinto, logo existo". pois é preciso estar no mundo com os outros, com todos, pela alegria e pela tristeza, pela angústia e pela esperança, pela vida principalmente.

o livro conclama os filhos e filhas da terra a se unirem para enfrentar três grandes problemas: a crise social, a crise do sistema de trabalho e a crise ecológica. É a terra, Gaia, a Grande Mãe, que deve ser salva no sentido de garantir condições de vida para as gerações futuras. Na ânsia de acumulação, própria do sistema capitalista, os meios produtivos transformaram-se em meios altamente destrutivos da natureza e da biosfera. As minorias detentoras do poder, do ter e do saber, ignoram que em nome da dignidade todas as leis devem curvar-se. Perdendo a autonomia esvai-se a dignidade humana... Então, perplexo, o ser humano se descobre como sapiens e demens.

A situação do empobrecimento crescente, da exclusão e da miséria é um grande desafio. Para visualizar uma realidade diferente é preciso trabalhar na construção de um novo sistema, onde todos tenham lugar na participação e na partilha. Sistema esse, concebido e perpassado pelo diálogo, pela justiça e pela solidariedade.

Ethos Mundial é um livro atualíssimo, que após leitura crítica, deve provocar transformações e amadurecimento, levando-nos a assumir responsabilidades diante de questões urgentes.

Segundo Leonardo Boff, a história hoje nos impõe uma missão. "Alimentar a chama sagrada que arde em cada ser humano, qual lamparina santa, com óleo da veneração e do cuidado essencial. Somente assim garantiremos que o Ethos essencial que habita o ser humano continue a ser seu anjo protetor e jamais seja ofuscado ou extinto da face da terra."

domingo, 31 de maio de 2009

Muito Longe de Casa - Para conhecer a violência da guerra civil em Serra Leoa



Brutal, cruel, mas extremamente tocante a narrativa do livro que relata as experiências de Ishmael Beah, um menino de 12 anos que se vê, de repente, perdido da família e lutando para sobreviver com alguns amigos, em meio aos conflitos civis em Serra Leoa. A perda da família e a fuga pelas densas florestas do interior de Serra Leoa fazem-no sentir-se extremamente sozinho no mundo, apesar dos amigos que fogem com ele. No entanto, os constantes combates dos quais participa, ao se tornar um menino-soldado, matando, degolando, queimando vivos civis, homens, mulheres e crianças que, como ele, não tinham culpa de estar no meio de uma guerra, fazem de Ishmael uma máquina de matar, admirado pelo seu tenente e por todos os outros meninos do Pelotão.
Ao se tornar um soldado, procura se desvencilhar de todos os princípios éticos e bons sentimentos que possam impedi-lo de matar, roubar e praticar as piores crueldades. E para não pensar sobre o que faz, as drogas tornam-se companheiras constantes, responsáveis por empurrar para o fundo do cérebro sensações que ele não quer ter, lembranças que se recusam a abandoná-lo...
Mesmo depois de ser retirado pela UNICEF da zona de guerra, os fantasmas da guerra ainda perseguem Ishmael nas noites de insônia e pesadelos em que rebeldes matam-no por diversas vezes. Mas o menino se recusa a morrer...
É preciso viver para relatar ao mundo a crueldade da guerra que recruta crianças como soldados, roubando delas a infância, a família e os sonhos.
Um livro para ser lido por toda a geração atual que acredita na resolução dos conflitos pelo diálogo... Leitura necessária para a geração dos shoppings e dos cartões de crédito, que acreditam na solução dos problemas através do consumo desmedido. Leitura obrigatória para a geração do “É MEU, EU QUERO, AGORA” pois é preciso compreender que as fronteiras do mundo se estendem além do próprio umbigo. Por fim, é uma leitura imprescindível para estudantes e curiosos que querem entender as conseqüências do imperialismo europeu na África, vivido e relatado pelo lado mais fraco.

domingo, 17 de maio de 2009

Classificados Poéticos – Para todo dia!




“Menina apaixonada oferece um coração cheio de vento, onde quem quiser pode soprar três sementes de sonho. O coração da menina ilumina as noites escuras como se fosse um farol. É um coração como todos os outros: às vezes diz sim, às vezes diz não... E tem sempre uma enorme fome de sol.”


O livro ilustrado por Paula Saldanha, aparentemente dedicado ao público juvenil, é de uma complexidade muito grande. Escrito em forma de tradicional anúncio de uma página de jornal, os poemas falam alto aos nossos sentimentos utilizando palavras como: alugo, troco, ofereço... O texto significativo e estilístico de Roseana Murray revela versos carregados de sentimentos e de vontade mudar alguma coisa... Como quando sentimos a necessidade de adquirir um móvel novo ou objeto qualquer. “... Preciso guardar minhas lembranças... O anel que tu me deste, o amor que tu me tinhas e as histórias que eu vivi...” Vontade, também, de desfazer de algum hábito antigo. “Colecionador de cheiros troca um cheiro de cidade por um cheiro de neblina...”
De forma lúdica, a escritora consegue fazer com que o leitor reflita sobre temas urgentes que permeiam nosso cotidiano, como a necessidade do diálogo entre as nações. “... Menino que mora num planeta azul feito a cauda de um cometa quer se corresponder com alguém de outra galáxia. Neste planeta onde o menino mora as coisas não vão tão bem assim: o azul está ficando desbotado e os homens brincam de guerra...”
Uma belíssima e atual redação, que evidencia romantismo, mas que não esconde o desencanto com a destruição do meio ambiente e problemas urbanos, como o engarrafamento... “Troco um fusca branco por um cavalo de vento, um cavalo mais veloz que o pensamento...”
Apresenta, ainda, esperança no ser humano. “... O habitante de outra galáxia aceita trocar selos e figurinhas e pede ao menino que encha os bolsos de esperança... que a doença do planeta azul ainda tem solução.”
Bem fininho e de leitura fácil, mas de conteúdo gigante... Ao final, ficamos nós, com a sensação de que a vida é mesmo muito simples e que precisamos de muito pouco para sermos felizes: “... Tem quartos de todas as cores que aumentam ou diminuem de acordo com o seu tamanho e na garagem há vagas para todos os seus sonhos.”
E somos tomados por um desejo enorme de fazer tudo diferente: “... Mas que seja mais do que palavra, mais do que promessa: seja como a chuva que sacia a sede da terra.”
Desde que conheci, passou a ser o meu livro de cabeceira. Há que se despir de todo egoísmo e ter muita sensibilidade para compreender toda a beleza e poesia desse livro...




quarta-feira, 13 de maio de 2009

Fala, Filho da Mãe!!! – Para os entrefolhenses



A leitura do livro revela a beleza presente no cotidiano de uma cidade simples do interior e de pessoas mais simples ainda... Só mesmo alguém com alma de poeta para descobrir e desvendar a poesia de uma venda de lugarejo: “na venda do arlindo maria não havia tristeza que ria”... A sensibilidade do autor no poema Jardinagem é tocante, como tocante, também, é a percepção da magnitude do cactos rejeitando o enxerto. Sensação de desilusão que ponteia a vida do ser humano... Como crianças, constantemente, nos vemos diante de situações imutáveis. A vida é assim... seguimos caminho afora, perdendo dia-a-dia as certezas e as ilusões. E para não perder o sabor da vida é preciso armar-se de esperança, criando novas ilusões...
A Entre Folhas retratada em Fala, Filho da Mãe!!! não é uma cidade utópica, os personagens estão escondidos nos inúmeros moradores: gente alegre, divertida e que acredita na vida e nas pessoas. Acontecimentos marcantes da vida entrefolhense aparecem no livro, como no poema Usina da Cana Quebrada. “Na curva da estrada / a mão traiçoeira/ no bolso enfiada. Na curva da estrada/ os restos mortais/ de uma safra apagada.”
Quanta esperança perdida, quanto sonho abandonado, quanta gente judiada... Desalento e tristeza... O livro lembra lugares e pessoas que já não existem mais, mas que ocupam, ainda, um espaço muito importante na formação da história da cidade e, por isso mesmo, na história de seus filhos. Quem nasceu em Entre Folhas , vai se encontrar nas páginas do livro de Wagner Martins... Serão inevitáveis as lembranças de lugares e pessoas especiais... Mas se você não é entrefolhense e ainda não esteve por esses lados, sentirá uma vontade imensa de conhecer essa terra...
E aqui chegando, constatará que a felicidade, realmente, mora aqui!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Grande Sertão: Veredas – Para conhecer o sertão


"...toda saudade é uma espécie de velhice..."



A obra de Guimarães Rosa representa um marco na literatura brasileira. Publicado pela primeira vez em 1956, Grande Sertão: Veredas passou por algumas reformas, nas edições que se seguiram, na tentativa de melhorar o entendimento do leitor. Entretanto o maior atrativo da obra é justamente a linguagem pura e genuína do sertão. Para melhor compreensão do livro, faz-se necessário conhecer a alma do sertanejo.
O amor acalentado de Riobaldo e Diadorim vai se mostrando no desenrolar da história. Quando enfim esse amor pode se tornar real já não tem mais razão de ser: morto num confronto de jagunços Diadorim revela-se mulher. A paixão de Riobaldo, finalmente compreendida, mostra-se de forma louca e sofrida, ao perder seu grande amor: diadorim, que até então julgava ser um homem.
A história é narrada pelo protagonista. Riobaldo fala a um ouvinte invisível, a quem ele pede conselhos e dá ensinamentos. Assinalada pela luta constante do homem em compreender a vida Riobaldo aponta a disputa entre liberdade e prisão, medo e coragem, amor e ódio, morte e vida, bem e mal, lucidez e loucura, conduzindo à disputa maior: Deus e Demônio.
Sempre que o narrador quer dar um ensinamento, remete o ouvinte/leitor à figura de um compadre, seu Quelém, de Goiás. Na travessia da vida é que se faz a sabedoria...
Outro ponto interessante da obra é a visão do narrador acerca do sertão. Ele aponta definições interessantes que podem resumir e instigar o leitor: “O sertão é sem lugar”, “Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar”, “O sertão é do tamanho do mundo”, “Sertão é o sozinho”, “Sertão: é dentro da gente”, “O sertão é confusão em grande demasiado sossego”, “O sertão não tem janelas nem portas”, “O sertão é grande, ocultado demais”, “O sertão é uma espera enorme”, “Sertão o senhor querendo procurar nunca se encontra”, “O sertão está em toda parte”, “O sertão não chama ninguém às claras, mas porém se esconde e acena”...
No decorrer da história o sertão vai se revelando: a paisagem, os acidentes geográficos, os personagens e a revelação da alma do sertanejo.
A leitura do livro mostra quão importante é a religiosidade na vida do mineiro. Riobaldo luta para se convencer da grandeza de Deus, tem medo dos pactos que podem atrelar a venda da alma ao demônio à conquista do poder. Pra quê religião? “para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura”.
A astúcia, a perspicácia e a desconfiança, próprias do mineiro, o fazem diferente. “Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo mundo... Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa...”
A habilidade de Riobaldo em remoer suas lembranças e contar sua história para si mesmo e para um ouvinte invisível é a grande arma para não se perder de vista e continuar sendo. “Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma só coisa – a inteira – cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver – e essa pauta cada um tem – mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Tem que ter. Senão, a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doidera que é”. Aí está o significado da família e dos amigos para o narrador... Casa sempre cheia, com portas e janelas abertas, muita gente em torno da mesa, fartura e alegria. Pra quê? Guimarães Rosa é quem explica: “Para ajudar a enxergar o caminho!”


domingo, 10 de maio de 2009

Por Parte de Pai - Para quem não conheceu o avô...



“Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede. A casa do meu avô foi o meu primeiro livro.”



Cidade pequena, história simples, personagens comuns... Especificidades de pessoas interioranas, narradas com muita sensibilidade. Ao ler esse livro, reconheci parte da história da minha vida, histórias que ouço desde pequenininha do meu pai, que revela uma infância rica em afeto e carinho. Eu, que não conheci o meu avô, ouço os conselhos dele ao ler o livro: “O tempo tem uma boca imensa. Com sua boca do tamanho da eternidade ele vai devorando tudo, sem piedade. O tempo não tem pena. Ele é o dono de tudo...” E tantas outras passagens do livro, que remetem a um tempo que, infelizmente, não pude viver e que só conheço graças a experiência de vida do meu pai e histórias contadas pela minha mãe...
Quem nasceu no interior de Minas e preza a família vai se encontrar nesse livro. A capa, as folhas amareladas e o enredo enchem o peito de saudade causando uma gostosa e preguiçosa nostalgia ... O sentido de família retratado no texto é tão amplo e tão significativo que dá uma vontade doida de fazer voltar o tempo só para experimentar essa vida... A condescendência do avô, o leite com farinha, as maledicências da vizinhança, o jogo de peteca e a queimada, o pé-de-moleque com rapadura, os quadros de santo e os retratos de família, carinhosamente pendurados nas paredes... Ouvir a ‘Voz do Brasil’ e tantos outros costumes que só quem é de Minas pode entender...
Talvez seja esse o valor maior desse livro: despertar o desejo de reviver ou conhecer fatos e acontecimentos, trazer à tona lembranças, recordações e vivências, aproximando-nos de nossas raízes, de nossa terra e de nossos familiares. A família tradicionalmente mineira é assim: faz da vida um ritual e devagarzinho vai vendo o tempo passar. E vai passando junto com o tempo, mas tudo espiando, tudo enxergando e muito aprendendo. A leitura do livro nos faz lembrar do almoço em família, das visitas aos amigos, da infância despreocupada e sem pressa, da missa do domingo – porque mineiro de verdade não deixa de colocar o caroço de milho na cumbuca...
A amizade e companheirismo entre avô e neto narrados por Bartolomeu Campos de Queirós é outra característica da família mineira. O afeto está sempre presente, mas em toques sutis, gestos discretos e não é por economia... É tão somente medo de se despir da austeridade, abrir a alma e mostrar um coração rasgado de ternura. O estar junto é tão importante que, às vezes, é confundido com preguiça. Você quer ter sempre alguém por perto: para dividir as tarefas do dia, para conversar, para divertir... Tudo desculpa para ficar perto um do outro.
Então, vai dizer que esse simples comentário não mexeu com suas memórias?
Pois bem. Leia o livro e você se pegará lembrando de coisas aparentemente sem importância: um brinquedo inventado pelo pai, uma comida especial da mãe, uma provocação gostosa de um irmão, um companheiro de infância e tantas outras lembranças... Sem importância, mas tão significativas que os anos não varrerão da memória e, quem sabe, até lhe despertará o desejo de escrever tais acontecimentos para partilhar com os outros e provocar muita, muita saudade...

sábado, 9 de maio de 2009

O Pequeno Príncipe, uma lição de vida...



“As estrelas são todas iluminadas. Não será para que cada um possa um dia encontrar a sua?”


Quando foi publicado nos Estados Unidos, em 1943, Antoine de Saint-Exupéry era refugiado da 2ª Guerra Mundial. Uma narrativa envolvente que relata a aventura de um principezinho que visita o planeta Terra. Durante a caminhada conhece vários personagens: o rei, o bêbado, o empresário, o geógrafo, o acendedor de lampiões, a serpente, a raposa, o aviador... Ensina lições e aprende com eles...
O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, é desses livros que a gente acaba de ler, fecha e nunca mais esquece a história. E numa conversa habitual do dia-a-dia a gente se pega repetindo algum trecho do livro... E nunca é simplesmente uma frase feita. Por exemplo: “O essencial é invisível aos olhos”. Ainda que sejamos profundos conhecedores de pessoas, jamais conseguiremos decifrar o enigmático ser humano. Sabendo disso o Pequeno Príncipe alerta: “É preciso buscar com o coração!” “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Em meio à pressa e a impaciência dos tempos modernos, quem tem tempo de cativar?
Para vencer a frieza e a intolerância do cotidiano, a receita é tremendamente eficaz: O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. E não há contra indicação, vale para qualquer idade. Na minha casa, desde sempre é leitura obrigatória.
O livro fascina e encanta da primeira à última página, talvez porque nos aproxima de nós mesmos, fazendo-nos ver o mundo com olhos de ternura e deslumbramento. Lendo, você jamais esquecerá. Mais: sentirá necessidade de retornar ao livro para encontrar-se consigo mesmo...
Assim como o Pequeno Príncipe aparece e desaparece da terra devagarzinho, o autor do livro desapareceu misteriosamente no deserto. Vítima de um acidente aéreo em 1944, o corpo de Saint-Exupéry nunca foi encontrado, talvez tenha acontecido a ele o mesmo que aconteceu ao Pequeno Príncipe: “... Parecerei morto, mas não é verdade...” A última lição do principezinho resume a saga do homem na terra, e, porque sabemos tão somente o começo da história, aprendamos a lição do Pequeno Príncipe: “Eu, se tivesse cinqüenta e três minutos para gastar, iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte...”